O Gestalt-terapeuta enfatiza o que acontece e como acontece, ajudando o cliente a mergulhar na sua experiência e a buscar a finalidade – ou o para que do seu comportamento".
A Gestalt-terapia teve seu início na década de 50, acompanhando as vertentes humanistas que surgiram em contrapartida às principais correntes teóricas vigentes, a behaviorista e a psicanalítica. Para as correntes humanistas a visão de homem muda, a partir de um ser determinado (pelo inconsciente, por exemplo) e de um objeto de estudo para sujeito responsável por suas escolhas. A abordagem traz um olhar especial para as potencialidades e possibilidades, para além do enfoque em conflitos, dificuldades e distúrbios do desenvolvimento. A Gestalt-terapia tornou-se mais conhecida na década de 70 e chegou ao Brasil nesse período.
A Gestalt-terapia surgiu a partir de influências de diferentes fontes do conhecimento e centraliza em sua produção dois pressupostos: 1- é impossível considerar a pessoa isoladamente, o foco está em sua relação com o mundo e 2- o homem é indivisível em suas facetas sociais, fisiológicas, mentais, espirituais e culturais. Por isso a abordagem também olha para os fenômenos psicológicos sem criar falsas dualidades e sem questionamentos simplistas que pressupõem uma linearidade causal. Um exemplo disso é o olhar para uma questão cultural e uma situação fisiológica em que ambas podem atuar como condição do fenômeno observado, sem que uma seja vista como determinante ou anterior à outra. Uma vez que a relação é algo central, é possível compreender um dos principais conceitos da Gestalt-terapia, o conceito de contato (consigo e com o mundo), a teoria se baseia na qualidade desse contato, se há fluidez ou se há processos estáticos que impedem a movimentação em busca por satisfação das necessidades.
O foco está no presente, isso não significa que conteúdos do passado não sejam trabalhados, o foco é como esses conteúdos afetam o momento presente e também as marcas que eles produziram e que continuam reverberando até hoje. Para exemplificar, a pessoa pode seguir repetindo reações aprendidas no passado e assim mantém sua experiência no presente baseada em tais crenças, sensações, atitudes. No momento do atendimento é possível identificar conteúdos que precisam de mais atenção. O acompanhamento terapêutico visa ajudar a pessoa atendida a localizar as situações que ficaram inacabadas de alguma forma e por isso continuam precisando de atenção e a ampliar a sua percepção sobre si, incluindo suas potencialidades, para que as utilize em seu contato com o meio (a essa capacidade chamamos de auto suporte). Vale lembrar que auto suporte é diferente de autossuficiência, pois nessa abordagem sempre se pensa a pessoa em seu meio e os diálogos possíveis de se estabelecer entre suas necessidades e os recursos disponíveis.
No atendimento a atenção não está voltada apenas para o que é dito, mas também para como é dito, com gestos, expressões corporais, postura, tom e modulação da voz, tudo é levado em consideração na busca de uma melhor compreensão da experiência que se apresenta. Como está descrito no site da Associação Brasileira de Gestalt-terapia: “O psicoterapeuta busca captar o significado para o cliente das situações por ele vivenciadas no seu cotidiano (...). O Gestalt-terapeuta enfatiza o que acontece e como acontece, ajudando o cliente a mergulhar na sua experiência e a buscar (...) a finalidade – ou o para que do seu comportamento. (...) Não se trata de compreender, analisar ou interpretar os acontecimentos, comportamentos ou sentimentos, mas, sobretudo, de favorecer a tomada de consciência global da forma como funcionamos e de nossos processos”. Outro fundamento da abordagem é a suspensão dos julgamentos e da experiência pessoal da parte do terapeuta para melhor compreender a pessoa atendida. Nesse contexto, o papel do profissional não é o de ficar oculto, é imprescindível a qualidade de presença de forma autêntica, envolvida, ética e respeitosa.